“Cidades são para pessoas, não para carros”
Cicloativista vê crescer o movimento a favor da bicicleta como meio de transporte eficiente, saudável e sustentável

Aos 18 anos, Willian Cruz só andava de carro e achava que a vida na sua cidade, São Paulo, era impossível sem um veículo motorizado. Aos 27, incorporou a bicicleta para esporte e lazer. Demorou alguns anos para perceber que ela poderia servir também como meio de transporte até o trabalho. Hoje, aos 37 anos, o analista de sistemas tem certeza de que pedalar pode ser a solução para os problemas de mobilidade nas grandes cidades. Willian é um dos mais combativos cicloativistas do País. Idealizador e editor do site Vá de bike, ele acredita que houve avanços no movimento a favor da bicicleta como meio de transporte eficiente, saudável e sustentável. Tem esperança de ver crianças indo à escola com suas bicicletas e senhoras idosas pedalando até o mercado. “Muita gente que antes riria com a possibilidade de usar a bicicleta hoje ao menos respeita essa opção, mesmo que não se disponha a adotá-la. Ainda chegaremos lá”, acredita.
O que o Código de Trânsito Brasileiro dispõe sobre bicicletas?
Entre outros pontos, o Código diz que é competência da União, estados e municípios promover o desenvolvimento da circulação e segurança de ciclistas. O mais importante, a meu ver, é o artigo 201. Ele prevê que os demais veículos devem guardar uma distância de 1,5 metro dos ciclistas. Só que esse artigo não é fiscalizado, muito menos respeitado. É praticamente desconhecido dos motoristas.
Como incentivar o uso da bicicleta?
Um dos pontos principais é tornar as ruas mais seguras, fiscalizando e punindo os crimes de trânsito e ameaças à vida. Muita gente gostaria de usar a bicicleta, mas não o faz por medo. Além disso, é preciso adequar o sistema viário às bicicletas e aos pedestres. Por exemplo, é muito difícil cruzar de bicicleta ou a pé as pontes dos grandes rios que cortam a cidade de São Paulo, o Pinheiros e o Tietê. O acesso dos carros é feito em velocidade e não há faixas de pedestres. Oferecer locais para estacionamento e vestiários a quem vai de bicicleta ao trabalho, às lojas e restaurantes é outro ponto importante.
Quais as vantagens ambientais, sociais e urbanísticas da bicicleta?
O uso da bicicleta pode diminuir os congestionamentos, os acidentes e mortes no trânsito, além da poluição e do gasto com a saúde pública. Mas há também outros benefícios indiretos e difíceis de mensurar: pedalando, o cidadão tem a sensação de ser parte da cidade, pois passa a ter mais contato com lugares e pessoas em vez de se isolar dentro de um carro. As cidades devem ser para pessoas, não para carros.
Quais os melhores exemplos de convívio entre bicicletas e carros no mundo e no Brasil?
Sorocaba, no interior paulista, vem se destacando ao ampliar cada vez mais a infraestrutura para os ciclistas e valorizar o cidadão que utiliza a bicicleta. No exterior, temos exemplos como Copenhague e Amsterdã, onde a bicicleta passou a fazer parte da cultura local de tal forma que usar o carro passou a ser a exceção. Outro bom exemplo é Paris, onde não há ciclovias, mas há respeito, inclusive porque o motorista sabe que haverá punição séria caso coloque em risco a vida de alguém.
Numa cidade grande sem ciclovias, qual deve ser o comportamento do ciclista para se preservar?
Talvez devêssemos dizer “numa cidade grande sem ciclovias e sem respeito ao ciclista”, pois, havendo respeito, ciclovias só serão necessárias em grandes avenidas de tráfego rápido. Sempre recomendo o uso dos equipamentos básicos de segurança, como capacete e luvas. Na rua é importante manter-se sempre à direita e na mesma mão dos veículos. Mas não se deve andar muito colado à calçada. Os carros podem tentar ultrapassar na mesma faixa que você, mesmo sem espaço, e o ciclista pode se desequilibrar e cair com o susto, sem falar no perigo de um esbarrão. Tomar cuidado com portas de carros parados que se abrem repentinamente também é recomendável.
Saiba mais: http://vadebike.org/